terça-feira, 25 de abril de 2017

CINEMA HONESTO: 'TOAST - A HISTÓRIA DE UMA CRIANÇA COM FOME'


Filmes sobre comida me encantam principalmente pela linguagem visual. O retrato da comida na tela é o que me faz salivar e a relação com aquele alimento e seu enredo, personagens, é algo que me desafia. A primeira resenha da seção Gastrocrítica é do filme "Toast - A história de uma criança com fome" que confesso... foi uma decepção. Mas eu explico.

Demorei muito, confesso pra assistir o filme de 2010, do cineasta S.J. Clarkson, baseada na história da infância do chef Nigel Slater. Na verdade é e não é. Porque se for mesmo essa a história do chef, rapás, que ~reiva~ que eu peguei desse garoto.

"Toast" conta a história de um menino que observa sua mãe ser extremamente carinhosa, porém muito desastrada e inábil na cozinha, além de ter fobia de comer algo que não venha de uma lata. Seu pai é ranzinza e distante. Aos poucos ele desenvolve um imenso apreço pela cozinha e tenta agradar seu pai cozinhando após a morte da mãe. Porém ele se envolve com Mrs. Potter, que inicialmente cuida da casa, mas é uma exímia cozinheira. Ambos começam então a disputar a atenção do pai através de comidas cada vez mais sofisticadas e deliciosas.

O grande problema desse filme, na minha opinião, é que ele mascara a falta de um enredo bom e de um protagonista carismático, com cenas esteticamente muito belas e cheias de cores, poesia e trilha sonora afiada. Porém, a sensação ao final do filme é praticamente a de ficar de "barriga vazia".


Isso porque "Toast" tenta fazer poesia mas só mostra um protagonista extremamente mimado, que nunca passou um perrengue na vida e de certa forma projeta em uma mulher exuberante sua falta de perspectiva e tato com o mundo. A relação com o pai, que o destrata, parece sempre à beira de se mostrar profunda, mas jamais se mostra.

Competição culinária

Helena Boham Carter, que dá vida à Mrs. Potter, praticamente carrega o filme nas costas. Ela é uma mulher vívida, talentosa, cheia de vida e que tem nas mãos o dom da cozinha. Mas nem isso o protagonista parece enxergar, e ela não se retém a ele: quer ser meu amigo, beleza, não quer, problema é seu.

A competição culinária entre os dois (pela atenção do pai) é simplesmente sem graça. Faltou ao cineasta transformar tudo isso em um balé de intenções, mas nem nisso ele chega. Falta sal, falta pimenta, falta enredo, história.


Algumas cenas envolvendo Mrs. Potter parecem entrar no cenário de mostrar o machismo sob uma perspectiva melhor... mas não chegam lá. A questão da sexualidade de Nigel, quando ele se apaixona por um boy ~artista~ já adolescente, também não vai a lugar algum. Em "Toast", comida é prisão e não libertação.

No final, "Toast" é um filme que tenta ser alguma coisa meio cult, mas fracassa. A única boa lembrança dele é o visual daquela torta de limão linda, e das comidas belas de Mrs. Potter.



Publicado originalmente no Sal&Estante
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